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Plágio acadêmico

 Plágio acadêmcio

O acesso universal às informações é aludido constantemente como um dos benefícios, resultante da chamada era digital. Há um senso comum que aponta as novas Tecnologias da Informação e Comunicação como a mola propulsora para aumento do plágio nas produções científicas. Este texto reata como eu vi nascer o plagio acadêmico 4.0.



Em todas as etapas que estive matriculado na Educação Básica, entre os anos de 1986 à 1997, nunca ouvi falar sobre plágio escolar ou acadêmico. Entregávamos os trabalhos escolares, principalmente das disciplinas de História, Geografia e Ciências manuscritos com caneta vermelha ou verde para os títulos, e azul ou preta no corpo do texto. Ou desenhávamos as imagens com canetinha e lápis de cor Faber Castell, ou recortávamos as figuras de revistas velhas da Editora Abril. Evitávamos recortes de jornais, pois quando passávamos cola Tenaz para fixar o recorte no meio do trabalho, deixávamos nossas digitais em cada folha do papel almaço com pauta. Ficávamos mega felizes quando nossos professores nos obrigavam copiar as datas de entrega dos trabalhos escolares bimestrais em nossas agendinhas escolares. Era o início da formação de quadrilhas para irmos até a Biblioteca Municipal de Piracicaba, no centro da cidade. No dia da visita à biblioteca, levávamos um caderno, nossa agendinha, o estojinho de canetas e um lanche. A atendente no balcão perguntava o assunto do trabalho, e entregava em nossas mãos a Enciclopédia Barsa, já aberta na página do assunto do trabalho. Tirávamos xerox, e voltávamos para casa escrever o trabalho. 

Fui ouvir o que era plágio somente quando ingressei na Universidade, em 1998. A discussão sobre os perigos do plágio não duravam mais do que 10 minutos da aula. Geralmente, os professores mais preocupados com a questão eram os docentes que estavam vinculados a algum tipo de pesquisa financiada por agências de fomento como a Fapesp. Na faculdade, a seleção dos textos que fundamentavam a pesquisa já era mais hi-tech. A biblioteca do Campus Taquaral da Universidade Metodista de Piracicaba possuía terminais de consulta informatizados para consulta, para consultarmos, modéstia a parte, o suntuoso acervo de livros da biblioteca. A Unimep era um luxo. O processo de busca das referência no final da década de 1990 é mais ou menos parecido com o que fazemos hoje: digita o termo chave, e o sistema fornece a informação. A diferença é que, naquela época, tínhamos que anotar códigos numéricos em papel rascunho, e ir até o corredor correspondente aquele código para retirar o livro. Ou tirávamos xerox das páginas do livro à um preço exorbitante no monopólio do xerox universitário, ou levávamos uma pilha de livros para casa, que deveriam ser entreguem novamente à biblioteca em até sete dias. Se alguém falasse alto, ou falasse sem parar, logo ouvia-se um "xiu" no recinto. Os mais intolerantes olhavam feio até para quem espirrasse. A diferença entre o passado e o presente, é que hoje não preciso mais anotar códigos em papel rascunho, ou caminhar pelos corredores da biblioteca da universidade. Faço isso deitado na minha cama, com o ar condicionado ligado, pelo notebook ou pelo smartphone. Se antigamente o silêncio era determinante para concentração, hoje não é mais. Na maioria das vezes, estas as buscas são feitas ao som de músicas nos fones de ouvido, ou ao som do toque de mensagem do WhatsApp. E viva o Google. Viva os PDFs. 

A pesquisa é a essência da coleta de informações produção de novos resultados, novas informações e novos conhecimentos, resultantes a partir da análise, que constrói e descontrói teorias. As novas Tecnologias da Informação e Comunicação, disponibilizam através da internet milhares de publicações, artigos, teses, estudos e até livros inteiros praticamente de todos os temas. textos, artigos, livros, trabalhos acadêmicos dos mais variados temas. A tecnologia dominou os meios de obtenção de informações, e também de aprendizagem. Meu único medo é quanto à universalização deste recurso, ou a detenção de sua posse apenas para os mais favorecidos. 

De um lado, a tecnologia beneficia o estudante ao fornecer a ele uma infinidade de dados em apenas alguns segundos. Mas por outro, ele pode ser um agravante ao fornecer dados que carregam um conjunto de formatos semelhantes e imprevisíveis, dificultando seu processamento e análise, essenciais para a construção do conhecimento. A facilidade do "control c" + "control v" reforçou a ideia da cultura da cópia. Para combater o plágio acadêmico, foram desenvolvidos os programas de varredura. Pouco tempo após, o maligno tentador lançou outra armadilha, obrigando os profissionais de TI a desenvolver outras tecnologias capazes de detectar um outro tipo de plágio: a tradução integral de textos publicados em outros idiomas para o português, copiados e colados do navegador para a template em formato Word da instituição de ensino. 

Pasmem: vira e mexe, me deparo com PDFs hospedados em URLs de bancos de dados renomados no meio acadêmico. Fico chocado. E digo mais: se eu suspeitar, é tiro e queda. É só colar um fragmento do artigo no Google Tradutor e traduzir do português para idiomas "mais exóticos". Pelo que percebi, os idiomas preferidos dos "plagiotradutores" são: russo, grego, húngaro, polonês, turco, romeno e mandarim. E para piorar, muitas ferramentas de varredura que hasteiam a bandeira da tecnologia de tradução multilíngue não cumprem as promessas da eficácia das suas funcionalidades. 

A sensação são os programas que parafraseiam textos. Em questão de minutos, os programas denominados como "spinner" transforam transformam 20 laudas de texto, em uma nova redação que, segundo seus desenvolvedores, são "textos autênticos e originais". Além da troca de palavras do texto por sinônimos, os programas prometem enriquecer o novo texto com a promoção de encadeamentos semântico e sintático entre as frases. Estes softwares fornecem uma imensidão de elementos de ligação, advérbios, locuções, conjunções e preposições mais usados nas redações científicas. Você só precisa entender as relações de sentido dos termos para substituí-los pelos elementos de ligação de ideias corretos. Exemplo: nas relações de sentido de semelhança, comparação ou conformidade, o programa sugere uma listagem de elementos de ligação de ideia como "igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, em conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, tanto quanto, como, assim como, bem como e corno se". 

Fico imaginando o que o futuro nos reserva. No futuro, vamos falar para a Alexa, para a Siri e para a Google Assistente "Desenvolva um artigo cientifico com tal tema" e elas responderão "Aqui está o artigo que você me pediu. Usei tal metodologia. Seu texto é inédito, pois não encontrei nada parecido na internet. Deseja que eu imprima ele para você, ou devo enviá-lo para o e-mail? E viva a Inteligência Artificial.

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